segunda-feira, 26 de março de 2012

Intimidade




Adriana Roitman


A intimidade intimida
pois nem sempre é bela
e raramente é falada
de peito aberto.

A intimidade é para poucos,
é para aqueles que não julgam
e que não destroem
com um olhar a fantasia.

A intimidade intima
à verdade
à dor, à culpa,
ao medo de não ser mais.

A intimidade não perdoa,
pois se intitula real,
traz conflitos, paradoxos,
sonhos esquecidos.

A intimidade se mostra
na despretensão de ser o que se é,
na crueza da alma,
na palavra perdida.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Insegurança







Traduz - se num medo constante
Numa incerteza do sentimento recíproco
Incerteza que destrói
Que faz definhar dia - a - dia
Tira a paz, tornando - se uma agonia incessante


O que de pior pode haver
A insegurança tem o dom de fazer
Sentimento ruim que entra sem pedir licença
E o mal pode trazer


E o mais triste de tudo isso
É que ela te leva a pensar
a coisa mais absurda e sem sentido
Ela só traz dor, sofrimento
Sendo, portanto, um dos piores sentimentos

Não tem porquê deixá - la invadir o seu ser
Pois o que está perfeito pode ser desfeito
Sem razão, sem motivo
Somente por capricho e por não se deixar ver
que tudo será como tem que ser
Não há razão para temer.

by Neliane Viana

segunda-feira, 12 de março de 2012

Sobre as palavras




Sergio Fonseca

Andei perdendo palavras por aí. Talvez por falar em excesso elas me faltem agora. As que saíram aos gritos duvido que voltem. Escaparam e deixaram vítimas durante a fuga. Uma pena. Mas em esforço de guerra dizem que perdas são justificáveis. Nunca acreditei muito nisso.

Andei perdendo palavras por aí. Talvez por ficar em silêncio elas me sobrem agora. E por serem excesso ocuparam o espaço antes reservado ao agrupamento ordenado delas. O crescimento desordenado de palavras é mais perigoso. Jamais pensei na possibilidade de um motim de palavras.

Andei perdendo palavras por aí. Das soltas e guardadas. Algumas entraram por um ouvido e saíram pelo outro. Outras entupiram narinas e muitas desceram pelos olhos.

Ainda ontem me olhei no espelho e vi que engordei. Ando comendo palavras saturadas. Um perigo. Preciso perder peso, perder palavras para reencontrá-las.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Por que escrevo?



“Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada… Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro…”.Clarice Lispector
 Das manias que tenho a mais louca é escrever, e de tão insana é quase proverbial. Por que insisto nela? Escrevo como uma forma de cartase. Para isto preciso estar em um estado de ânimo peculiar, em um estado que me permita olhar além do que se chama real e expressar somente o que sinto. Uma tentativa de me libertar das minhas próprias emoções, pois estas não cabem em meu peito. 
 Escrevo de sentimentos, não de fatos. Os fatos são só a representação do cotidiano. Sentimentos é o que aprendo dele. Escrevo para descobrir quem sou. Escrevo para dizer quem acho que sou. Escrevo para me esconder. Escrevo para me exibir. Escrevo para conseguir ver o mundo. Escrevo porque não sei usar a fala. Ela é insuficiente. A escrita também o é, contudo menos traidora. Escrever é lutar contra o tempo, contra o inevitável destino do esquecimento. Escrevo para tentar ser, sempre.
 Mas ainda não encontrei o caminho certo. Não encontrei a estrada de ouro que conduz ao castelo do Mágico das Palavras. Portanto, ainda não sei onde está a palavra que me permita escrever o primeiro e derradeiro livro, que me leve ao clímax da existência. Continuarei a procurar a alameda dourada, assim, saltitando com os meus sapatinhos vermelhos.
Por Daisy Rogaciano